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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Indicação de leitura


Sempre é bom compartilhar boas leituras, especialmente quando elas são úteis para introduzir assuntos relevantes como a diversidade. No livro "As Trigêmeas e o Planeta Queijo" (Editora Scipione), as sobrinhas da famosa Bruxa Onilda são transportadas para um planeta em que tudo é diferente, principalmente elas que são vistas com maus olhos pelos habitantes de lá. A trama da história começa em uma escola, algo muito apropriado, pois os amigos das trigêmeas também destacam-se por suas peculiaridades. O mais interessante é que ao final do livro encontra-se um "PEQUENO DOSSIÊ para mães, pais, avôs e avós, na verdade, um DOSSIÊ SOBRE A DIFERENÇA. Há várias perguntas reflexivas que remetem a trama da histórica com sugestões de como abordar as questões de aceitação da diferença que repousa em nós mesmos e nos outros. Portanto, vale a pena conferir! Aliás, o autor Roser Capdevila possui outros títulos bárbaros que merecem ser igualmente lidos.

Uma merecida homenagem


E enfim o blog será retomado! Depois de alguns meses de pausa, eis uma homenagem merecida a alguém que lutou pela inclusão das pessoas com algum tipo de deficiência visual. Dorina Nowill morreu no dia 29 de agosto de 2010, mas seu legado certamente será imortal!


O pai da Turma da Mônica, Mauricio de Souza (que criou a personagem Dorinha em homenagem a Dorina), também expressou seus sentimentos sobre o falecimento desta que foi um exemplo de vida para todos nós!

quinta-feira, 25 de março de 2010

A TURMA DA MÔNICA E SEUS PERSONAGENS INCLUSIVOS


Dorinha fez sua estréia no mundo dos quadrinhos da Turma da Mônica em 22 de novembro de 2004, na edição do Gibi da Mônica n°221. Trata-se de uma personagem deficiente visual, que ganhou este nome em homenagem a Dorina Nowil, que perdeu sua visão ainda na infância e desde então foi um exemplo de força e coragem de superar limites e de criar novos caminhos e recursos para dar qualidade de vida aos deficientes visuais. A Fundação Dorina Nowil é uma referência de instituição. Deveras, uma homenagem merecida
A história em que Dorinha é introduzida na turma, "A Nova Amiguinha", foi muito apropriada, pois partiu de uma situação em que a turma toda estava brincando de cabra-cega e vivenciando as dificuldades impostas pelo não ver. Desde o primeiro encontro a personagem Dorinha aparece radiante ao lado do seu cão labrador Radar, com visual moderno e figurino fashion, segurando em uma mão sua bengalinha e na outra a coleira do seu cão-guia. Dorinha logo se socializa com a turma e mostra suas habilidades e sentidos aguçados como o tato, a audição e o olfato.
Mauricio de Sousa aponta alguns dos seus objetivos em criar a personagem : "A Dorinha vai mostrar às crianças como ouvir o som do mundo, sentir seus perfumes, e sugerir o hábito da inclusão, onde todos se tratam de igual para igual, independentemente de alguma deficiência física.".
Segue abaixo o link com a história de estréia de Dorinha na Turma da Mônica:
O segundo personagem portador de necessidades especiais da Turma da Mônica foi o cadeirante Luca, que estreiou nas bancas no dia 20 de dezembro de 2004, na edição do Gibi da Mônica n° 222. Luca é um amante dos esportes, principalmente do basquete, fã do cantor Hebert Vianna e da banda Paralamas do Sucesso. É um garoto divertido e corojoso, que arranca também suspiros das personagens femininas da turminha do Maurício. Segundo Mauricio de Souza Luca tem realmente o objetivo de mostrar às outras crianças as possibilidades de uma infância feliz, interativa, independe de qualquer deficiência física.
Há um personagem da Turma da Mônica que já figura há algum tempo nos gibis, o Humberto, um garoto que interage com as outras crianças da turma, porém não fala nada além de "hum, hum, hum". Este personagem gera de fato muitas dúvidas na cabeça dos leitores, pois não fica claro se Humberto escuta ou não. Em entrevista ao Comitê Brasileiro de Esportes Paraolímpicos o próprio Mauricio tira esta dúvida ao dizer que "Humberto é surdo e não aprendeu a falar". Nesta mesma entrevista, Mauricio revela que ele e sua equipe de roteiristas não utilizam muito o personagem por falta de conhecimento do mundo dos surdos, porém almejam explorá-lo com mais consistência futuramente. Sim, a criação de um personagem e mesmo o desenvolvimento do mesmo exige pesquisa de campo, como bem afirmou Maurício em relação a criação dos personagens Dora e Luca: "Para se criar algum personagem com algum tipo de deficiência tinhamos que estudar o mundo da pessoa com deficiência, seus hábitos, suas dificuldades, sua adaptação, seus sentimentos em relação às outras crianças. Tínhamos que mergulhar fundo, também, para nos despirmos dos preconceitos, mesmo inconscientes e chegar a um concenso, eu e a equipe de roteiristas, quanto à forma de apresentá-los como personagens e no bojo de um roteiro, de uma história com seriedade, respeito, humor e mensagem. Foram necessárias muitas reuniões, debates, estudos e discussões."
A entrevista acima citada, intitulada "Maurício o mago dos quadrinhos", pode ser conferida na íntegra no seguinte link:
Portanto, aí está a dica! Na Turma da Mônica há outros personagens a explorar além da Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão ... Aproveitando o fato das crianças gostarem tanto de histórias em quadrinhos podemos introduzir assuntos pertinentes ao respeito à diversidade partindo de personagens como a Dorinha, o Luca e o Humberto.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O PAPEL DA BRINCADEIRA SIMBÓLICA NA CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES POSITIVAS COM AS DIFERENÇAS


É fato que as crianças, desde bem pequenas, produzem cultura através de suas brincadeiras, uma "cultura da infância", que os enrigecidos olhares adultocêntricos muitas vezes despercebem ou ignoram . E visto que a brincadeira simbólica é culturalmente e socialmente aprendida é a partir do convívio com o outro que ela desenvolve-se e amplia suas possibilidades. E no quesito convívio com a diversidade, isto nos induz a observar e a questionar: Como as crianças representam as deficiências em suas brincadeiras?
Beatriz A. Alcântara Cardoso e Eliana B. Jorge Lima no artigo intitulado Diferente ou Deficiente?, citam Omote e explicitam esta questão: "No convívio entre as crianças, segundo Omote (1996) elas demonstram como a deficiência e a não-deficiência são produzidas, isto é, só podem ser explicadas no âmbito social, são construídas nas relações a partir do olhar, da reação do outro no grupo social, pela identificação que algumas pessoas apresentam características não-comuns à maior parte das pessoas."
E dentro da Educação Infantil, um espaço privilegiado de construção de relações, não se pode desprezar o potencial da brincadeira simbólica de criar um espaço de trocas de sensações e sentimentos entre crianças com diferentes tipos de necessidades. Por exemplo, qual seria o impacto de introduzirmos na brincadeira uma boneca cega? Certamente exigiria a criação de diversas estratégias para brincar, dando espaço para se falar sobre a cegueira e suas especificidades com todas as crianças. Portanto, abre-se um campo muito interessante a ser explorado: vivenciar a linguagem corporal das crianças com deficiências nas brincadeiras. Se introduzirmos tais questões de maneira lúdica, as barreiras de conceitos sobre normalidade, deficiência e não-deficiência gradualmente dissolver-se-ão, dando espaço para construção de pontes que priorizem as relações humanas de igualdade e fraternidade e atribuindo um valor positivo ao fato de haver diferenças de todos os tipos entre as pessoas.
As autoras anteriormente citadas ainda fazem uma série de questionamentos pertinentes, que deveras devem guiar a intencionalidade do trabalho do educador ao abordar as deficiências: "Como as crianças transgridem as noções do ver e do não ver, do andar e do não-andar, do falar e do não-falar, apontando outras possibilidades de ser relacionar com o diferente? A organização do espaço físico em creches e pré-escolas comporta as diferenças de gênero, classe, raça, etnia, fisiológicas, psicológicas e outras? Esse espaço permite as diferentes formas de expressão e possibilita a produção de diferenças?".
Um dos erros recorrentes dos educadores é abordar questões em relação as deficiências e as diferenças apenas quando há algum caso de Inclusão dignosticada em sala. Quer dizer que nas salas em que não há nenhuma criança com as patologias das deficiências e das síndromes estampadas no rosto ( ou no corpo), não é necessário abordar tais assuntos? A escola não pode perpetuar a idéia de que o mundo é perfeito e que as diferenças não existem. As crianças encontram-se inseridas na sociedade e observam a existência de pessoas com deficiências, assim como notam as diferenças étnico-raciais, sociais, culturais e econômicas e muitas vezes tem milhares de perguntas que gostariam de compartilhar. Além disso, as crianças da nossa época estão expostas constantemente a veículos de comunicação em massa, sendo a TV e a Internet produtoras de influências poderosas, que reverberam em atitudes, palavras e ações no dia-a-dia. Portanto, cada educador precisa realmente perguntar-se o que tem feito para explorar a diversidade em sala de aula e a partir daí atentar-se para a produção das culturas infantis. E como constatado, a brincadeira simbólica é um meio riquíssimo de observar como acontece tal produção, assim como um recurso excelente para que as crianças vivenciem a linguagem do outro, em meio a conflitos, contradições, resistências e principalmente "conquistas"!
Referência citada:
CARDOSO, Beatriz A. Alcântara.; CUNHA, Eliana B. Jorge. Diferente ou Deficiente? in Revista Pátio - Educação Infantil - Ano III - n° 9 - novembro 2005/fevereiro 2006.

sexta-feira, 19 de março de 2010

DIVERSOS OLHARES E UM ÚNICO FOCO : DESENVOLVIMENTO HUMANO E DIVERSIDADE


Queremos apresentar neste texto, alguns estudos que expõe diferentes ponderações sobre algumas idéias de autores que ao longo de seus trabalhos, exploraram problemas que hoje estão sendo discutidos e repensados em virtude da inclusão social e do respeito às diferenças.

Para começar, o conhecido e renomado Vigotsky em seus trabalhos realizados no período de 1924 a 1931, já direcionava um olhar focado às necessidades e possibilidades implicadas no desenvolvimento e educação dos sujeitos com deficiência. Na realidade, essas ponderações têm sido pouco divulgadas e discutidas no Brasil, em relação aos seus outros trabalhos e teses gerais, bem mais conhecidas pelos profissionais da educação.

Como bem sabemos, para Vigotsky é importante considerar que a vida social está marcadamente organizada para as condições de desenvolvimento humano. A imersão da criança na cultura depende das condições oferecidas pelo meio em que vive. Por essa razão, "(...)Diante da condição de deficiência é preciso criar formas culturais singulares, que permitam mobilizar as forças compensatórias e criar caminhos alternativos de desenvolvimento, que implicam o uso de recursos especiais."

Para ele, o déficit orgânico não pode ser ignorado, mas é a vida social que abre possibilidades ilimitadas de desenvolvimento cultural. Esta questão apresentada nos faz pensar, sobre a importância de respeitar a singularidade de cada um, pois a criança pode ter alguma deficiência mental, por exemplo, mas é a sua inserção social e a peculiaridade do atendimento educacional que lhe proporcionará experiências e a diferenciará de outros pessoas, inclusive das mesmas que apresentam igual deficiência diagnosticada.

Vigotsky apresenta em seus estudos muitas críticas aos modelos equivocados de educação, diagnóstico e classificação dos sujeitos com deficiência, que na verdade, a seu ver, servem apenas para determinar níveis de desenvolvimento, ao mesmo tempo em que negligencia os aspectos dinâmicos do desenvolvimento e as potencialidades e talentos das crianças, enfatizando o direito de todos em aprender as mesmas coisas e receber a mesma preparação para a vida futura, independente do nível de aprendizagem que cada um pode alcançar.

Após tantas décadas de divulgação e circulação dos estudos de Vigotsky, percebe-se, ainda que recentemente, avanços em termos de legislação e discurso, mas sabemos o quanto precisamos buscar indicadores que possam concretizar transformações mais significativas para que a inclusão social aconteça de fato.

Atualmente existem muitos estudos e contribuições que nos ajudam a refletir sobre o tema e fazendo uma análise, é possível identificar o mesmo foco das propostas de Vigotsky, como por exemplo, no caso da autora Lígia Assumpção Amaral, que considera o preconceito produto do desconhecimento que faz as pessoas desconsiderar aquilo que não conhecem: "(...) Devemos trazer para o campo do estudo das diferenças a questão da deficiência com toda sua amplitude de peculiaridades."Segundo ela, a generalização reduz o entendimento e "gera o empobrecimento da compreensão."Geralmente, o entendimento acerca das questões humanas se dá de forma totalizante e padronizante, como se todos fossem iguais e tivessem características idênticas, sem diferenciações. A autora também aborda os significados da diferenciação trazidos visivelmente pelos portadore de deficiências: "(...) o deficiente é a própria encarnação da assimetria, do desequilíbrio, das disfunções. Assim sua desfiguração, sua mutilação, ameaça intrinsecamente a existência do outro."

Nesta mesma linha, Maria Teresa Eglér Mantoan defende que "(...) Quando entendemos que não é a universalidade da espécie que define um sujeito, mas as suas peculiaridades, ligadas a sexo, etnia, origem e crenças, tratar as pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, assim como tratar igualmente os diferentes pode esconder as suas especificidades e excluí-las do mesmo modo e, assim sendo, ser gente é correr o risco de ser diferente."

Para ela, o dilema está em mostrar ou esconder as diferenças... "Porque a diferença é difícil de ser negada, recusada, desvalorizada. Se ela é recusada há que assimilá-la ao igualitarismo essencialista e , se aceita e valorizada, há que mudar de lado e romper com os pilares nos quais a escola tem se firmado até agora."

Segundo Idília Fernandes: "Todas as pessoas são diferentes umas das outras, incompletas, imperfeitas e assim se faz à caracterização de seres humanos, em um dia-a-dia com inúmeras 'restrições impeditivas'. Espera-se que o trabalho com as diferenças sirva para desiventar os empecilhos que restringem a expressão da vida e para desmontar o mito da perfeição, que se estiver presente nos 'céus', não o estará na Terra, por certo."

A diversidade está posta em nossas realidades e positivá-la é um dos desafios educacionais mais nobres e emergenciais dos nossos tempos. Wagner de Angeli Ferraz alerta sobre esta necessidade: "Pensar a educação é pensar a diferença. Toda ação é investimento de desejo, expressão, diferença. Em que aspecto somos iguais? Na diferença. Na escola, como em casa, nas praças , nas ruas a diversidade é o que há. Não há outra coisa senão a diversidade. Dito isto, a diferença apresenta-se como elemento fundamental da educação e condição para pensar a inclusão. Neste sentido, acolher a diversidade em sala de aula é um desafio. É preciso despir-se dos pré-conceitos que rondam o imaginário social, da psicologização estigmatizante que permeia as escolas, dos discursos teóricos-metodológicos que corroboram políticas públicas ineficientes e populistas, em suma, requer uma mudança de perspectiva do educador."

Sim, tantos olhares sobre o desenvolvimento humano e a diversidade realmente exigem "uma mudança de perspectiva do educador", que de fato precisa posicionar-se diante do desafio imposto pelo trabalho com as diferenças, pois não há como ser neutro ou indiferente, temos de definir nossos conceitos, redimensionando nossos objetivos e consequentemente qualificando nossas ações.

Fontes de nossas pesquisas:

AMARAL, Lígia Assumpção. Pensar a diferença/deficiência. Brasília: CORDE, 1994.

FERNANDES, Idília. "A diversidade da condição humana e a deficiência do conhecimento: no convívio com as diferenças e as singularidades individuais."Revista Virtual Textos & Contextos, n° 2, dez/2003.
Disponível : http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/960/740

FERRAZ, Wagner de Angeli. "Inclusão - Uma alternativa ética" in Pátio - Educação Infantil. Ano III- n° 9 - Novembro 2005/Fevereiro 2006. Editora Artmed.

GOES, Maria Cecilia Rafael de. Relações entre desenvolvimento humano, deficiência e educação: Contribuições da abordagem histórico-cultural. In: M. K. Oliveira, D. T. R. Souza. T. C. Rêgo (Org) Psicologia, Educação e as Temáticas da Vida Contemporânea. 1.ed. São Paulo: Moderna, 2002.

MANTOAN, Maria Teresa Egler. Igualdade e diferença na escola - como andar no fio da navalha.
Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/viewArticle/1253




segunda-feira, 15 de março de 2010

INDICAÇÃO DE LIVRO: UM MUNDINHO PARA TODOS


O livro UM MUNDINHO PARA TODOS, de Ingrid Biesemeyer Bellinghausen (Editora Difusão Cultural do Livro) é um excelente recurso para introduzir a temática da diversidade (ou mesmo para ilustrar a abrangência do assunto) principalmente para crianças da faixa etária da Educação Infantil.
Eis a sinopse impressa na contra-capa: "Era uma vez um mundinho onde cada habitante tinha um jeito de ser: uns viviam no norte e gostavam de andar descalços; outros, no sul e adoravam tomar chocolate quente; alguns não enxergavam muito bem e precisavam de ajuda. Em UM MUNDINHO PARA TODOS, escrito e ilustrado por Ingrid Biesemeyer Bellinghausen, as crianças percebem as diferenças que existem entre lugares, coisas e pessoas. Com texto impresso em Braille, esta obra é, também, destinada a leitores com visão subnormal e deficientes visuais."
A autora também tem outros títulos bem interessantes, como VAMOS ABRAÇAR O MUNDINHO, cujos destaques são a questão do consumo racional dos recursos naturais, cuidados com o meio ambiente e o destino correto do lixo orgânico e dos materiais recicláveis.
Dica compartilhada, bom proveito!

domingo, 14 de março de 2010

POR QUE É IMPORTANTE QUE AS CRIANÇAS APRENDAM A CONVIVER COM A DIVERSIDADE?



Primeiramente, se considerarmos que as crianças são sujeitos pertencentes a um determinado grupo social, vivendo no tempo real e produtores de sua própria história, é preciso reconhecer que elas desde muito cedo, reproduzem e manifestam preconceitos existentes nas relações que vivenciam.


Sabemos que existe hoje um forte movimento formativo que tem visado à busca por mudanças das concepções de criança e infância presentes no contexto escolar. Por outro lado, evidencia-se cada vez mais a falta de preparo que os profissionais da educação têm demonstrado para lidar com os problemas relacionados aos preconceitos e desigualdades existentes por acreditar que as crianças são "puras e ingênuas", desprovidas de condições para discutir tais assuntos de tamanha complexidade.


A falta de medidas e de um planejamento mais efetivo tem dificultado ainda mais o processo de democratização das relações e consequentemente o acolhimento da diversidade cultural presentes nas relações humanas. É importante ressaltar que respeito é ensinado e aprendido, portanto se em termos de políticas públicas fosse oferecido aos nossos alunos uma educação de melhor qualidade, obedecendo às adaptações curriculares necessárias, na perspectiva da idealizada "escola para todos", certamente estaria se ensinando muito sobre aprender a respeitar e ser respeitado.


Atendimento de qualidade significa entre outros fatores, olhar para as singularidades , peculiaridades e história de cada um, sem perder de vista a construção da coletividade. Formar cidadãos éticos é responsabilidade da escola, na medida em que este espaço apresenta experiências de convívio diferentes das que existem em outros ambientes que a criança costuma frequentar. O trabalho desenvolvido referentes às questões relacionados a convívio social pode se dar de forma simples ou complexa, não necessariamente um conteúdo didático como sugere os Parâmetros Curriculares Nacionais quando menciona a transversalidade de diversos temas, mas principalmente no cuidado para que os conflitos e situações do cotidiano não passem despercebidos por nós educadores.


O pontapé inicial para o reconhecimento da importância deste trabalho é a conscientização de que existe uma necessidade real de ensinar, aprender e conviver, pois o desgaste das relações e a confusão sobre o que tem fundamentado nossos valores está se tornando cada vez mais caótico. É fundamental para quem trabalha na educação, acreditar que ainda há tempo de construir novos paradigmas.


Para nos darmos conta de já que fomos piores do que somos, vale lembrar que há mais ou menos cem anos atrás, a escravidão era considerada normal, bem como há duas décadas pessoas com deficiência eram confinadas em espaços fechados e banidas de convívio social.


O discurso já conhecemos bem... Mas, enquanto espécie, a humanidade ainda tem muito a aprimorar, principalmente o povo brasileiro que não se considera racista e preconceituoso , e ingenuamente acredita que o país é uma grande democracia.

terça-feira, 9 de março de 2010

CIDADANIA PASSIVA OU ATIVA? QUAL DELAS VOCÊ PROMOVE?

A idéia de cidadania geralmente está associada a pessoa que sabe reivindicar direitos enquanto consumidora e pagadora de impostos, cumprindo cegamente aquilo que está legitimado como os deveres que se deve cumprir. Em primeira análise, parece tratar-se de uma postura irrepreensível. Mas, em que medida a cidadania pode representar muito mais do que isso? O autor Clodoaldo Meneguello Cardoso faz uma oposição interessante entre dois tipo de cidadania: a passiva e a ativa. Na cidadania passiva a "noção de cidadania está apenas associada aos deveres e direitos do indivíduo na vida coletiva". Sim, o foco é o indivíduo, ou seja, a esfera individualista sublima-se, pois nesta perspectiva só se reivindica quando algo nos afeta diretamente e só se destaca nossa obrigação individual e não coletiva. Formam-se assim os cidadãos que na linguagem popular "só olham para seus próprios umbigos", ou seja, ficam tão centrados em si mesmos que nem ao menos se reconhecem como parte de um coletivo ou não tem a dimensão da força que a coletividade pode ter na sociedade.

E em que ponto a Escola, enquanto instituição social, reforça a perspectiva desta cidadania passiva? Quando os educadores ( o que compreende não apenas os professores, mas todos aqueles que trabalham dentro do ambiente escolar) só destacam a cidadania como sinônimo de cumprimento de deveres pré-estabelecidos há uma limitação do que a cidadania realmente pode ser. O "não pode" e o "não deve" muitos vezes até fica sem explicação mais concreta: "não pode porque não pode" e o "não deve porque não deve e ponto final!". É aquela típica explicação que certo personagem de um programa infantil rebatia: "Por que sim não é resposta!". A tendência é que os direitos e deveres só apareçam como esferas prontas, sem discussão do que eles realmente implicam. Discuti-los e até questioná-los é quase um tabu! Mas como esperamos que as crianças ou mesmo os adolescentes entendam o sentido da coletividade se o tempo todo só lhes é reforçado suas obrigações individuais, sem apresentar-lhes sua esfera de atitude participativa na sociedade? Sim, os discursos prontos de ideais que a escola veicula corroboram com a cidadania passiva e quem nunca os utilizou que atire a primeira pedra...

E como é que se trabalha na perspectiva de uma cidadania ativa? O próprio termo ativa já implica a idéia de sair do estado de resignação em prol de ação, no caso a participação na vida da sociedade. Então, não há como ser neutro, toda cidadania é em si política, pois pressupõe participação nos assuntos de ordem pública. E outro erro recorrente é o de considerar que não há cidadania na infância, que a escola está preparando a criança e o adolescente para ser o cidadão do futuro. O ser humano enquanto viver está em constante processo de formação, nunca cessa a capacidade de aprender. Obviamente, em cada fase as características e habilidades são diferentes, mas há de se destacar ser a experiência humana a grande formadora de valores para a vida em sociedade. Esta experiência humana deve ser valorizada, pois lidamos com sujeitos pensantes que são capazes de raciocinar sobre o que vivenciam, entendendo a dinâmica dos grupos a que pertencem. E o coletivo da escola é rico em oportunidades para que as crianças e adolescentes percebam que é possível participar de decisões, que é preciso refletir sobre pensamentos e atitudes e não simplesmente reproduzir o que está posto como certo ou errado. Em outras palavras, ainda vive-se o conflito de superar a idéia que a educação bancária arraigou por muitos anos na educação, de que os alunos são uma folha em branco, uma tábua rasa em que se deve depositar o máximo possível de conhecimentos para prepará-los para a vida adulta. Este conceito de infância como fase preparatória está vivo na sociedade, mais existe sim cidadania na infância! E mais uma vez está nas mãos dos educadores combaterem tal idéia arraigada, proporcionando momentos de decisões coletivas, refletindo sobre pensamentos, atitudes e ações, ou seja, promovendo a quebra do senso comum em prol do desenvolvimento da criticidade desde a infância.

Referência do autor citado: CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. Fundamentos para Educação na Diversidade. in. MARANHE. E. A; MORAES. M.R.S. (Orgs). Introdução Conceitual para Educação na Diversidade e Cidadania. Coleção UNESP - SECAD- UAB. São Paulo: UNESP. 2009. v.2.

domingo, 7 de março de 2010

AFINAL, O QUE É NORMAL?


Diante da ilustração de Francesco Tonucci (do livro "Com Olhos de Criança"- Ed. Artmed) é inevitável negar o quanto cada um de nós é "especialista" em tecer juízos de valores sobre os outros. Juízos que em geral são taxativos e comparativos. E se fazemos comparações partimos de um príncipio, de um suposto modelo ou padrão do que consideramos "certo" ou "normal". De fato as relações humanas encontram-se permeadas de "expectativas" construídas em relação ao outro. Nossas expectativas, em geral, orientam-se pelo desejo de encontrar no outro algo que nos aproxime, ou seja, quanto mais semelhanças este outro tiver conosco, melhor.

Historicamente, culturalmente e socialmente a visão sobre as diferenças é predominantemente negativa. O destoante tende a ser rechaçado, ignorado e até eliminado do convívio desejável. Há de se reconhecer que o diferente realmente gera desconforto e estranheza. O modelo de sociedade em que fomos educados e construímos nossa identidade não nos acostumou, nem nos preparou, para conviver com as diferenças. Aliás, em termos de convivência, aprendemos a desenvolver uma aparente tolerância... Um tolerar bem limitado e ainda centrado em nossa visão do que é normal, como se fosse uma grande demonstração de bondade da nossa parte tolerar, suportar e aceitar o diferente.
Bem, o primeiro passo para superarmos visões tendenciosas e discriminatórias é reconhecer-nos como seres altamente preconceituosos. As consequências do preconceito são devastadoras em qualquer campo e instância social, mas ele torna-se muito pior se é construído e disseminado pela Escola. Apesar de ser uma engrenagem da sociedade, a Escola em seu papel de referência na formação da cidadania, deve fornecer contrapontos e novos horizontes, não se omitindo desta responsabilidade de fornecer subsídios para mudanças. Porém, antes de qualquer coisa, é preciso acreditar realmente no potencial que o conhecimento crítico possui de mudar e transformar realidades, em outras palavras, é preciso acreditar na capacidade do ser humano de humanizar-se. Sim, acreditar sinônimo de fé e confiança!
Portanto, aos educadores, o pontapé inicial de mudança deve partir de si mesmo, reconhecendo que a estrutura de ensino está montada para receber um aluno ideal, com supostos padrões de desenvolvimento emocional e cognitivo. Quem nunca teve o "alunos dos sonhos" projetado na cabeça? Até que ponto este "ideal" de aluno não nos cega para as muitas possibilidades de produzir saberes a partir das diferenças?
Se alguém ainda espera o alunos dos sonhos, faça o favor de questionar-se: "Será que eu sou a professora dos sonhos?"

sábado, 20 de fevereiro de 2010

BRINDE INAUGURAL!




Nada melhor do que buscar na literatura, em especial na poesia, uma boa maneira de inaugurarmos nosso blog. Portanto, compartilhemos este brinde literário ao sabor de um poema clássico de Tatiana Belinky:


DIVERSIDADE


Um é feioso

Outro é bonito

Um é certinho

Outro, esquisito


Um é magrelo

Outro é gordinho

Um é castanho

Outro é ruivinho


Um é tranquilo

Outro é nervoso

Um é birrento

Outro é dengoso


Um é ligeiro

Outro é mais lento

Um é branquelo

Outro é sardento


Um , preguiçoso

Outro, animado

Um é falante

Outro é calado


Um é molenga

Outro é forçudo

Um é gaiato

Outro é sisudo


Um é moroso

Outro é esperto

Um é fechado

Outro é aberto


Um carrancudo

Outro tristonho

Um divertido

Outro, enfadonho


Um é enfezado

Outro é pacato

Um é briguento

Outro é cordato


De pele clara

De pele escura

Um , fala branda

O outro, dura


Olho redondo

Olho puxado

Nariz pontudo

Ou arrebitado


Cabelo crespo

Cabelo liso

Dente de leite

Dente de siso


Um é menino

Outro é menina

(Pode ser grande

ou pequenina)


Um é bem jovem

Outro, de idade

Nada é defeito

Nem qualidade


Tudo é humano

Bem diferente

Assim, assado

Todos são gente


Cada um na sua

E não faz mal

DI-VER-SI-DA-DE

É que é legal


Vamos, venhamos

Isto é fato:

Tudo igualzinho

Ai, como é chato!