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quarta-feira, 24 de março de 2010

O PAPEL DA BRINCADEIRA SIMBÓLICA NA CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES POSITIVAS COM AS DIFERENÇAS


É fato que as crianças, desde bem pequenas, produzem cultura através de suas brincadeiras, uma "cultura da infância", que os enrigecidos olhares adultocêntricos muitas vezes despercebem ou ignoram . E visto que a brincadeira simbólica é culturalmente e socialmente aprendida é a partir do convívio com o outro que ela desenvolve-se e amplia suas possibilidades. E no quesito convívio com a diversidade, isto nos induz a observar e a questionar: Como as crianças representam as deficiências em suas brincadeiras?
Beatriz A. Alcântara Cardoso e Eliana B. Jorge Lima no artigo intitulado Diferente ou Deficiente?, citam Omote e explicitam esta questão: "No convívio entre as crianças, segundo Omote (1996) elas demonstram como a deficiência e a não-deficiência são produzidas, isto é, só podem ser explicadas no âmbito social, são construídas nas relações a partir do olhar, da reação do outro no grupo social, pela identificação que algumas pessoas apresentam características não-comuns à maior parte das pessoas."
E dentro da Educação Infantil, um espaço privilegiado de construção de relações, não se pode desprezar o potencial da brincadeira simbólica de criar um espaço de trocas de sensações e sentimentos entre crianças com diferentes tipos de necessidades. Por exemplo, qual seria o impacto de introduzirmos na brincadeira uma boneca cega? Certamente exigiria a criação de diversas estratégias para brincar, dando espaço para se falar sobre a cegueira e suas especificidades com todas as crianças. Portanto, abre-se um campo muito interessante a ser explorado: vivenciar a linguagem corporal das crianças com deficiências nas brincadeiras. Se introduzirmos tais questões de maneira lúdica, as barreiras de conceitos sobre normalidade, deficiência e não-deficiência gradualmente dissolver-se-ão, dando espaço para construção de pontes que priorizem as relações humanas de igualdade e fraternidade e atribuindo um valor positivo ao fato de haver diferenças de todos os tipos entre as pessoas.
As autoras anteriormente citadas ainda fazem uma série de questionamentos pertinentes, que deveras devem guiar a intencionalidade do trabalho do educador ao abordar as deficiências: "Como as crianças transgridem as noções do ver e do não ver, do andar e do não-andar, do falar e do não-falar, apontando outras possibilidades de ser relacionar com o diferente? A organização do espaço físico em creches e pré-escolas comporta as diferenças de gênero, classe, raça, etnia, fisiológicas, psicológicas e outras? Esse espaço permite as diferentes formas de expressão e possibilita a produção de diferenças?".
Um dos erros recorrentes dos educadores é abordar questões em relação as deficiências e as diferenças apenas quando há algum caso de Inclusão dignosticada em sala. Quer dizer que nas salas em que não há nenhuma criança com as patologias das deficiências e das síndromes estampadas no rosto ( ou no corpo), não é necessário abordar tais assuntos? A escola não pode perpetuar a idéia de que o mundo é perfeito e que as diferenças não existem. As crianças encontram-se inseridas na sociedade e observam a existência de pessoas com deficiências, assim como notam as diferenças étnico-raciais, sociais, culturais e econômicas e muitas vezes tem milhares de perguntas que gostariam de compartilhar. Além disso, as crianças da nossa época estão expostas constantemente a veículos de comunicação em massa, sendo a TV e a Internet produtoras de influências poderosas, que reverberam em atitudes, palavras e ações no dia-a-dia. Portanto, cada educador precisa realmente perguntar-se o que tem feito para explorar a diversidade em sala de aula e a partir daí atentar-se para a produção das culturas infantis. E como constatado, a brincadeira simbólica é um meio riquíssimo de observar como acontece tal produção, assim como um recurso excelente para que as crianças vivenciem a linguagem do outro, em meio a conflitos, contradições, resistências e principalmente "conquistas"!
Referência citada:
CARDOSO, Beatriz A. Alcântara.; CUNHA, Eliana B. Jorge. Diferente ou Deficiente? in Revista Pátio - Educação Infantil - Ano III - n° 9 - novembro 2005/fevereiro 2006.

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