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sexta-feira, 19 de março de 2010

DIVERSOS OLHARES E UM ÚNICO FOCO : DESENVOLVIMENTO HUMANO E DIVERSIDADE


Queremos apresentar neste texto, alguns estudos que expõe diferentes ponderações sobre algumas idéias de autores que ao longo de seus trabalhos, exploraram problemas que hoje estão sendo discutidos e repensados em virtude da inclusão social e do respeito às diferenças.

Para começar, o conhecido e renomado Vigotsky em seus trabalhos realizados no período de 1924 a 1931, já direcionava um olhar focado às necessidades e possibilidades implicadas no desenvolvimento e educação dos sujeitos com deficiência. Na realidade, essas ponderações têm sido pouco divulgadas e discutidas no Brasil, em relação aos seus outros trabalhos e teses gerais, bem mais conhecidas pelos profissionais da educação.

Como bem sabemos, para Vigotsky é importante considerar que a vida social está marcadamente organizada para as condições de desenvolvimento humano. A imersão da criança na cultura depende das condições oferecidas pelo meio em que vive. Por essa razão, "(...)Diante da condição de deficiência é preciso criar formas culturais singulares, que permitam mobilizar as forças compensatórias e criar caminhos alternativos de desenvolvimento, que implicam o uso de recursos especiais."

Para ele, o déficit orgânico não pode ser ignorado, mas é a vida social que abre possibilidades ilimitadas de desenvolvimento cultural. Esta questão apresentada nos faz pensar, sobre a importância de respeitar a singularidade de cada um, pois a criança pode ter alguma deficiência mental, por exemplo, mas é a sua inserção social e a peculiaridade do atendimento educacional que lhe proporcionará experiências e a diferenciará de outros pessoas, inclusive das mesmas que apresentam igual deficiência diagnosticada.

Vigotsky apresenta em seus estudos muitas críticas aos modelos equivocados de educação, diagnóstico e classificação dos sujeitos com deficiência, que na verdade, a seu ver, servem apenas para determinar níveis de desenvolvimento, ao mesmo tempo em que negligencia os aspectos dinâmicos do desenvolvimento e as potencialidades e talentos das crianças, enfatizando o direito de todos em aprender as mesmas coisas e receber a mesma preparação para a vida futura, independente do nível de aprendizagem que cada um pode alcançar.

Após tantas décadas de divulgação e circulação dos estudos de Vigotsky, percebe-se, ainda que recentemente, avanços em termos de legislação e discurso, mas sabemos o quanto precisamos buscar indicadores que possam concretizar transformações mais significativas para que a inclusão social aconteça de fato.

Atualmente existem muitos estudos e contribuições que nos ajudam a refletir sobre o tema e fazendo uma análise, é possível identificar o mesmo foco das propostas de Vigotsky, como por exemplo, no caso da autora Lígia Assumpção Amaral, que considera o preconceito produto do desconhecimento que faz as pessoas desconsiderar aquilo que não conhecem: "(...) Devemos trazer para o campo do estudo das diferenças a questão da deficiência com toda sua amplitude de peculiaridades."Segundo ela, a generalização reduz o entendimento e "gera o empobrecimento da compreensão."Geralmente, o entendimento acerca das questões humanas se dá de forma totalizante e padronizante, como se todos fossem iguais e tivessem características idênticas, sem diferenciações. A autora também aborda os significados da diferenciação trazidos visivelmente pelos portadore de deficiências: "(...) o deficiente é a própria encarnação da assimetria, do desequilíbrio, das disfunções. Assim sua desfiguração, sua mutilação, ameaça intrinsecamente a existência do outro."

Nesta mesma linha, Maria Teresa Eglér Mantoan defende que "(...) Quando entendemos que não é a universalidade da espécie que define um sujeito, mas as suas peculiaridades, ligadas a sexo, etnia, origem e crenças, tratar as pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, assim como tratar igualmente os diferentes pode esconder as suas especificidades e excluí-las do mesmo modo e, assim sendo, ser gente é correr o risco de ser diferente."

Para ela, o dilema está em mostrar ou esconder as diferenças... "Porque a diferença é difícil de ser negada, recusada, desvalorizada. Se ela é recusada há que assimilá-la ao igualitarismo essencialista e , se aceita e valorizada, há que mudar de lado e romper com os pilares nos quais a escola tem se firmado até agora."

Segundo Idília Fernandes: "Todas as pessoas são diferentes umas das outras, incompletas, imperfeitas e assim se faz à caracterização de seres humanos, em um dia-a-dia com inúmeras 'restrições impeditivas'. Espera-se que o trabalho com as diferenças sirva para desiventar os empecilhos que restringem a expressão da vida e para desmontar o mito da perfeição, que se estiver presente nos 'céus', não o estará na Terra, por certo."

A diversidade está posta em nossas realidades e positivá-la é um dos desafios educacionais mais nobres e emergenciais dos nossos tempos. Wagner de Angeli Ferraz alerta sobre esta necessidade: "Pensar a educação é pensar a diferença. Toda ação é investimento de desejo, expressão, diferença. Em que aspecto somos iguais? Na diferença. Na escola, como em casa, nas praças , nas ruas a diversidade é o que há. Não há outra coisa senão a diversidade. Dito isto, a diferença apresenta-se como elemento fundamental da educação e condição para pensar a inclusão. Neste sentido, acolher a diversidade em sala de aula é um desafio. É preciso despir-se dos pré-conceitos que rondam o imaginário social, da psicologização estigmatizante que permeia as escolas, dos discursos teóricos-metodológicos que corroboram políticas públicas ineficientes e populistas, em suma, requer uma mudança de perspectiva do educador."

Sim, tantos olhares sobre o desenvolvimento humano e a diversidade realmente exigem "uma mudança de perspectiva do educador", que de fato precisa posicionar-se diante do desafio imposto pelo trabalho com as diferenças, pois não há como ser neutro ou indiferente, temos de definir nossos conceitos, redimensionando nossos objetivos e consequentemente qualificando nossas ações.

Fontes de nossas pesquisas:

AMARAL, Lígia Assumpção. Pensar a diferença/deficiência. Brasília: CORDE, 1994.

FERNANDES, Idília. "A diversidade da condição humana e a deficiência do conhecimento: no convívio com as diferenças e as singularidades individuais."Revista Virtual Textos & Contextos, n° 2, dez/2003.
Disponível : http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/960/740

FERRAZ, Wagner de Angeli. "Inclusão - Uma alternativa ética" in Pátio - Educação Infantil. Ano III- n° 9 - Novembro 2005/Fevereiro 2006. Editora Artmed.

GOES, Maria Cecilia Rafael de. Relações entre desenvolvimento humano, deficiência e educação: Contribuições da abordagem histórico-cultural. In: M. K. Oliveira, D. T. R. Souza. T. C. Rêgo (Org) Psicologia, Educação e as Temáticas da Vida Contemporânea. 1.ed. São Paulo: Moderna, 2002.

MANTOAN, Maria Teresa Egler. Igualdade e diferença na escola - como andar no fio da navalha.
Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/viewArticle/1253




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